A Nova Avaliação da CAPES: Uma Mudança Necessária na Pós-Graduação Brasileira

A Nova Avaliação da CAPES: Uma Mudança Necessária na Pós-Graduação Brasileira

Categoria: Educação

Data de publicação:

Você já deve ter acompanhado as notícias sobre as mudanças que a CAPES está implementando na avaliação da produção científica dos programas de pós-graduação no Brasil. O famoso QUALIS, sistema que por anos foi referência (e, em alguns casos, motivo de preocupação), está sendo reformulado. No seu lugar, surge uma metodologia mais moderna, inspirada em padrões internacionais, com o objetivo de ser mais justa, valorizar a qualidade real dos artigos e combater as publicações predatórias.

Essa transformação não aconteceu de uma hora para outra. Durante muito tempo, a avaliação científica no Brasil priorizou o prestígio da revista em que o artigo era publicado, como se isso fosse sinônimo automático de qualidade. Essa abordagem, embora prática, mostrou suas limitações com o tempo. Ficou claro que era preciso ir além e reconhecer o mérito do trabalho em si, e não apenas do veículo que o divulgava. Além disso, era essencial dar mais visibilidade aos periódicos nacionais de excelência. Foi essa busca por maior equidade e reconhecimento do bom trabalho científico que motivou a reforma.

A nova proposta é clara em seu propósito, ainda que desafiadora na execução: em vez de focar apenas no periódico, a avaliação passará a considerar também o conteúdo do artigo. A produção intelectual ganha centralidade, deixando de ser apenas um reflexo do fator de impacto da revista. Para isso, foram estabelecidos três eixos de análise:

  1. Prestígio do periódico, agora classificado em uma escala mais detalhada (A1 a A8);
  2. Combinação entre qualidade do artigo e valorização de revistas brasileiras;
  3. Avaliação qualitativa, com critérios como originalidade, avanço conceitual e relevância científica, classificados de "Ótimo" a "Insuficiente".

Essa mudança impacta toda a comunidade acadêmica. Para os programas de pós-graduação, significa repensar estratégias de publicação, priorizando pesquisa relevante em vez de apenas almejar periódicos com alto índice de citações. Programas de regiões menos consolidadas, que antes enfrentavam barreiras invisíveis, terão mais oportunidades de demonstrar seu valor pela qualidade de seus trabalhos. Para os pesquisadores, surge uma liberdade maior: a chance de publicar em veículos que realmente dialoguem com suas áreas, sem a pressão excessiva por rankings que nem sempre refletem a realidade nacional.

Os periódicos brasileiros também são desafiados a se fortalecer, investindo em ética, transparência e rigor editorial – valores fundamentais para a ciência. Plataformas como a SciELO, já reconhecidas internacionalmente, tendem a se consolidar ainda mais nesse novo cenário.

A transição, no entanto, será gradual. Até 2024, o sistema atual permanece em vigor. Em 2025, serão divulgados os documentos orientadores, e entre 2025 e 2028, ocorrerá a fase de implementação e ajustes. Somente em 2029 teremos a primeira avaliação completa sob o novo modelo. Esse período é crucial para debates, adaptações e possíveis melhorias no processo.

Estamos diante de um novo capítulo para a pós-graduação brasileira, construído com o cuidado e a seriedade que nossa produção científica merece. É uma oportunidade para valorizar o que realmente importa: a ciência de qualidade, feita com dedicação e impacto real.